Como Pedir Insolvência Pessoal: Um Guia Detalhado

Em Portugal, a insolvência pessoal só pode ser declarada legalmente através de um processo judicial. Esse processo envolve a apresentação de uma petição ao Tribunal competente, seja por parte do devedor ou de um credor.

Como Pedir Insolvência Pessoal

Como Iniciar o Processo de Insolvência Pessoal?

O processo de insolvência pessoal pode ser iniciado de duas maneiras:

1. Apresentação à Insolvência pelo Devedor:

  • O devedor apresenta um requerimento ao Tribunal Judicial competente, acompanhado de documentação específica.
  • A documentação necessária inclui:
    • Lista completa de credores e valores das dívidas;
    • Relação de todos os bens do devedor;
    • Declaração de rendimentos;
    • Entre outros documentos.

2. Pedido de Insolvência Requerido pelo Credor:

  • Um ou mais credores podem solicitar a insolvência do devedor ao Tribunal Judicial.
  • Para tal, os credores devem apresentar um requerimento fundamentado, comprovando a situação de insolvência do devedor.

Quando Pedir Insolvência Pessoal?

A insolvência pessoal pode ser a solução ideal se você se encontra em uma das seguintes situações:

  • Está em sobre-endividamento: Quando o valor total das suas dívidas supera o valor dos seus bens e rendimentos, tornando impossível o pagamento das mesmas.
  • Tem penhora no salário: Se parte do seu salário está sendo penhorada para pagar dívidas, a insolvência pode suspender essa penhora.
  • Está sem condições de pagar as suas dívidas: Se você não tem renda suficiente para pagar as suas dívidas, mesmo com a penhora do salário, a insolvência pode ser a única saída.

O Processo de Insolvência Pessoal:

Após a abertura do processo de insolvência, o Tribunal nomeará um administrador de insolvência para gerir o processo. O administrador de insolvência irá:

  • Analisar a situação económica do devedor;
  • Identificar e contactar os credores;
  • Negociar acordos de pagamento com os credores;
  • Vender os bens do devedor (se necessário) para pagar as dívidas;
  • Apresentar um plano de pagamento aos credores.

Exoneração do Passivo Restante

Após a conclusão do processo de insolvência, o devedor pode solicitar a exoneração do passivo restante. Isso significa que as dívidas remanescentes serão perdoadas, desde que o devedor tenha cumprido todas as suas obrigações no processo.

Obrigatoriedade de Constituição de Advogado

Para iniciar um processo de insolvência pessoal, seja por iniciativa do devedor (apresentação à insolvência) ou por um credor (pedido de insolvência), é indispensável a contratação de um advogado. O advogado irá representá-lo durante todo o processo e garantir que seus direitos sejam defendidos.

Constituição do Advogado:

  • O advogado deve ser devidamente mandatado através de uma procuração forense.
  • A procuração forense é um documento que formaliza a relação entre o devedor e o advogado.
  • O advogado deve ter experiência em insolvência pessoal e estar habilitado a atuar em Tribunal.

Consequências da Falta de Constituição de Advogado

  • Se a petição inicial de insolvência não for acompanhada de procuração forense, o juiz poderá indeferir o pedido.
  • O devedor corre o risco de ter seus direitos prejudicados por não ter a devida orientação jurídica.

A Petição Inicial

A apresentação à insolvência ou o pedido de insolvência é feito através de uma petição inicial. Essa petição deve ser elaborada e assinada por um advogado e apresentada no Portal Citius com assinatura digital certificada.

Conteúdo da Petição Inicial:

A petição inicial de insolvência pessoal deve conter, entre outros elementos:

  • Factos essenciais: Descrição dos motivos que levaram à insolvência, como o valor das dívidas, a renda do devedor e os bens que ele possui.
  • Fundamentos jurídicos: Artigos do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE) que se aplicam ao caso.
  • Meios de prova: Documentos, testemunhas, declarações de parte, etc. que comprovam a situação de insolvência.
  • Pedido de declaração de insolvência pessoal.
  • Pedido de exoneração do passivo restante (opcional).

Recomendações:

  • Consulte um advogado especializado em insolvência pessoal para auxiliá-lo na elaboração da petição inicial.
  • Forneça ao advogado todas as informações e documentos relevantes para o caso.
  • Revise a petição inicial com atenção antes de submetê-la ao Tribunal.

Próximos Passos:

Após a apresentação da petição inicial, o Tribunal irá analisar o pedido e decidir se declara a insolvência do devedor. Se a insolvência for declarada, o processo seguirá para a fase de recuperação ou de liquidação do activo.


Insolvência Pessoal do Casal

Coligação Processual dos Cônjuges:

A lei portuguesa permite que ambos os cônjuges se apresentem conjuntamente à insolvência. Essa coligação processual é possível nos seguintes casos:

  • Regime de bens do casamento: O regime de bens deve ser de comunhão de adquiridos (regime regra) ou de comunhão geral. A coligação não é possível no regime de separação de bens.
  • Situação de insolvência de ambos os cônjuges: Ambos os cônjuges devem estar em situação de insolvência, ou seja, impossibilitados de cumprir todas as suas obrigações vencidas.

Apresentação à Insolvência: Dever Formal e Encapotado

Formalmente:

  • As pessoas singulares que não são empresárias em nome individual não têm o dever formal de apresentar-se à insolvência.
  • A não apresentação, nesse caso, não configura insolvência culposa, mesmo que cause um agravamento da situação económica do insolvente.

Encapotadamente:

  • A lei estabelece um dever encapotado de apresentação à insolvência para pessoas singulares que não sejam empresárias em nome individual ou comerciantes.
  • A violação desse dever não gera as mesmas consequências da insolvência culposa.
  • A principal consequência da violação do dever encapotado é a possibilidade de indeferimento liminar do pedido de exoneração do passivo restante. Essa situação pode ter consequências graves para os devedores.

Motivos para a Apresentação à Insolvência

  • Evitar o agravamento da situação económica: A insolvência pode evitar o aumento das dívidas e a penhora de bens.
  • Obter a proteção legal dos credores: A insolvência suspende as cobranças e penhoras.
  • Ter a oportunidade de recomeçar a vida financeira: A exoneração do passivo restante permite que o devedor elimine as suas dívidas e recomece do zero.

Recomendações

  • Consulte um advogado especializado em insolvência pessoal para obter orientação específica sobre o seu caso.
  • Avalie a viabilidade da coligação processual com o seu cônjuge, caso ambos estejam em situação de insolvência.
  • Reúna toda a documentação necessária para dar início ao processo de insolvência.
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